Amor Impossível


Muita coisa mudou desde a última vez que te vi. Sair da escola. Entrar na faculdade. Conhecer novos lugares, novos pontos de vista, novas realidades, novas pessoas.
No entanto, ainda gostava de poder dizer-te o que senti por ti. Falo no passado porque eu sei que já não te conheço. Hoje em dia, só sei quem foste até uma determinada altura e que existes como pessoa. Os restos que ainda sinto por ti são uma idealização, um amor platónico. Porque eu já não sei quem és, o que gostas, do que falas, como falas, como te vestes, como te comportas ou como te ris. Apesar de tudo, eu ainda penso em ti e gostava de te voltar a conhecer, à tua versão atual, mas fico só pela imaginação, apesar de estar farta de não sair deste plano.
Hoje sou madura o suficiente para perceber que talvez sejamos iguais. Tanto tu como eu fomos o espelho um do outro. A nossa inibição era mútua. Escolhíamos vestir uma capa todos os dias, que nos fechava e tornou frios, duros e distantes um do outro.
Por vezes penso que sou louca. Mas aqui, sou um livro aberto e estou sem qualquer censura a dizer-te tudo, porque no fim do dia sou só eu, no meu quarto a ouvir uma música de fundo enquanto escrevo numa folha de linhas aleatória. Sozinha, mergulhada nos meus próprios pensamentos e sentimentos mais recalcados.
Escolhi continuar até aos dias de hoje a vestir uma capa quando falam em ti, quando citam o teu nome, quando me cruzo contigo na rua. Neste intermédio de tempo, segui a minha vida, vi-te a seguir a tua também e, apesar de ficar feliz por isso, uma parte de mim carrega a nostalgia da nossa vida passada. Dos tempos em que sabia quem eras e sonhava naquilo que poderíamos ser só nós os dois.
Eu ainda acredito no destino, e talvez seja possível que nesta ou noutra vida nos voltemos a reencontrar. É em momentos como este que reflito: a nossa ligação não tem data de nascimento, portanto, nunca pode morrer.
Escrevi este texto no seguimento de um conjunto de ideias e pensamentos que se despertaram após ter assistido o filme "Vidas Passadas" (2023). O meu objetivo foi captar a essência do filme numa possível carta aberta para um "amor impossível". Este filme retrata o destino e as encruzilhadas da vida, desafiando as normas e formas convencionais de expressar amor. O filme explora o conceito de inyeon - a ideia de que encontros entre pessoas são determinados por conexões de vidas passadas. Com um desfecho melancólico, o filme transmitiu-me a ideia de que há amores que nunca morrem, ou seja, há conexões que nunca desaparecem completamente, mesmo quando as circunstâncias da vida nos afastam.
Maria Manuel Branco