O peso do que nunca foi dito


"I guess what I´m trying to say is that you´ve always been there, in everything I am, in everything I´ve ever done, and looking back, I know I should have told you how much you´ve always meant to me" - Nicholas Sparks
A frase de Nicholas Sparks acompanha-me desde os 14 anos. Nunca esteve direcionada a alguém em específico, mas sempre a senti como um reflexo de todas as pessoas de quem gosto. Identifico-me com ela porque, ao longo da vida, fui perdendo pessoas, umas porque a vida nos afastou naturalmente, outras de forma mais brusca e dolorosa. Em todas elas ficou, em algum momento, a sensação de vazio. Às vezes leve, quase impercetível, mas ainda assim presente. Esse vazio nasce, muitas vezes, do que não chegou a ser dito. A infância traz-nos uma certa ingenuidade, e a correria da vida adulta faz-nos esquecer que não somos eternos na vida uns dos outros. Vamos adiando a expressão dos sentimentos, deixando para "depois". Mas o "depois" pode não chegar.
Acho que a ingenuidade da infância nos faz estar menos atentos a estes tópicos. Além disso, num mundo atarefado, esquecemo-nos que não somos eternos na vida uns dos outros, por isso, as palavras intensas e a expressão dos sentimentos, apesar de para alguns ser difícil por implicar o desabrochar da nossa parte mais íntima e frágil, fica sempre para depois. Mas o "depois" pode nunca chegar, ou melhor, ele chega mas nós nem demos por ele e deixamo-lo passar.
Quando gostamos de alguém, fica quase sempre a impressão de que poderíamos ter feito ou dito mais. E, paradoxalmente, isso é sinal de amor, porque significa que nos importámos, que estivemos atentos, que fomos humanos.
A vida é breve. Por isso, que não deixemos para amanhã a oportunidade de dizer o que sentimos. E, mesmo quando já é tarde, que possamos ter a serenidade de saber que demos o melhor de nós.
Maria Manuel Branco